BRUNO
FIM
  



LEGENDAS

Da série: Escaladeira
FOTO 01 - Ladeira descendente
FOTO 02 - Escadas em Quebrada
FOTO 03 - Transporte íngrime
FOTO 04 - Degraus que sobem em ladeira
FOTO 05 - Paisagem em ladeira
FOTO 06 - O peso e o passo
FOTO 07 - A escada é ponte
FOTO 08 - Camadas de ladeira
FOTO 09 - Degraus de vizinhança
FOTO 10 - Onde a ladeira vira escada
FOTO 11 - Queda e quebrada
FOTO 12 - Cabos de horizonte
FOTO 13 - Cotidiano de subida
FOTO 14 - Inclinações do bairro
FOTO 15 - Encontro de escadas



SOBRE
AS IMAGENS

Caminhar é uma atividade humana - nômade - que possibilitou nos espalhar por esse mundo, nos mais ermos e duvidosos ambientes. Se reconhecer e se sentir pertencente a um espaço deve ter sido essencial para toda essa ocupação. A atividade de vagar pode ser tão básica e monótona, repetitivo e contínuo, mas que nos recobra a presença e o estado de abertura. Pensar e realizar essas fotografias são também uma homenagem póstuma ao meu psicoterapeuta, Luiz Carlos Quinamo, com quem compartilhei este território de origem e que abordava o sair pra caminhar como importante parte do processo terapêutico, já que era um andarilho praticante. Foi com essa premissa que dei mais forma ao projeto: fotografar ladeiras e escadarias dos territórios que me formaram.

Inspirado por algumas obras que se debruçam sobre o caminhar como mais do que mero deslocamento, mas como um gesto existencial, artístico, filosófico, e até estético, uma forma de habitar os territórios, encontrar o exótico, o inédito, com o olhar exploratório mesmo pro que já é habitual e banal. A caminhada assim se torna uma experiência aberta, focada no processo e não busca só as fotos como resultado, mas reafirma o talento da fotografia de registro do que é efêmero.

Subir um morro é muito mais que vencer uma inclinação com resistência corporal. Cada passo é um convite à respiração profunda, uma desaceleração forçada, o esforço físico de subir pode ser comparado com o esforço do pensamento, em que o corpo ajuda a mente a ganhar perspectiva, altura. A caminhada deixa de ser automática e se torna consciente, meditativa. Ao focar no esforço das pernas, a mente se liberta do turbilhão de preocupações, pra pensar fundo e produzir "foto que respiram o ar livre", pensamentos (e fotografias) que precisam do corpo junto.

Descer, por sua vez, é um exercício de entrega e leveza. É um fluxo diferente, onde o corpo aprende a abandonar o controle, o que pode ser libertador. As ladeiras e escadarias respeitam um percuso lógico que acompanha as curvas da montanha, e dali avistamos o labirinto da cidade em quadras. A descida permite a visão ao longe do caos urbano, em que o caminhar é decifrar um território não como um simples cenário, mas como um corpo topográfico vivo, uma complexidade difusa.

Ao invés de impor uma ordem que não existe fora o ideal, mas sim ler a ordem que já está expressa no mundo. Através da lente, enquanto buscava o enquadramento para cada degrau ou curva, revertia a lógica, em que o mundo, o lado de fora é onde se habita, e as casas, abrigos, são apenas paradas. A câmera virou uma extensão do caminhar, e cada foto, uma evidência de que: "Ao andar não se está indo ao encontro de se próprio, como se a questão fosse se reencontrar, se desfazer das velhas alienações para reconquistar um eu autêntico, uma identidade perdida. Ao andar escapa-se da própria ideia de identidade, escapa-se da tentação de ser alguém [...] Escapando da ideia de identidade, nos damos a possibilidade de nos reinventarmos sempre".

Texto de Bruno Fim


MINI BIO


BRUNO FIM

Iniciei na fotografia desde a adolescência e desde aí, a usei não só como ferramenta de expressão, mas também para ajudar a entender meu olhar sobre o que me cerca e expandí-lo. Como psicólogo, a fotografia é mais que uma técnica artística, mas é uma forma de ilustrar o que ressoa das vozes que nos formam e vislumbrar os espaços também como subjetivos e simbólicos.




FRAME NÚCLEO DE FOTOGRAFIA


PARTICIPANTES TERRITÓRIOS SENSÍVEIS